Uma unificação justa sem deixar de ser coerente
Um fato incontestável a respeito
do futebol brasileiro atribui ao período entre 1950 e 1974 como o mais
importante para o esporte no país. Foi durante esses anos que o Brasil produziu
a maior quantidade de craques surpreendentes, esquadrões inesquecíveis e
grandes seleções com belas campanhas em copas do mundo. Em 1950 o Brasil foi
vice-campeão contra o Uruguai no Macaranã, em 1954 perdia nas quartas-de-final
pro poderoso time húngaro de Puskás, em 1958 e 1962 vence com Pelé, Garrincha e
companhia, em 1966 faz uma campanha ruim em virtude de um elenco envelhecido,
em 1970 conquista o tri e em 1974 perde para o carrossel holandês de Cruyff na
semifinal. Nos anos 1990 a seleção fez ótimas campanhas como o título de 1994,
a final de 1998 e o título de 2002, mas foi naquele período que o Brasil venceu
seus primeiros três títulos de copa do mundo e tornou-se indiscutivelmente o
país do futebol.
Outro fato inquestionável, fundamentado pelo fato citado no parágrafo
acima, considera que é precipitado comparar a grandeza de clubes através da
quantidade de títulos de campeão brasileiro que eles possuem. No caso em
questão, os títulos do campeonato criado em 1971 para ser a mais importante
disputa de clubes de futebol em âmbito nacional. E é importante destacar que nenhuma
criança que decide por um clube para torcer vai optar por um que é pouco
vitorioso. Afinal, todos querem ser vencedores. A repetição de uma hierarquia
de grandeza baseada em um ou outro troféu, embora não seja uma atitude parcial,
pode contribuir para que outras glórias sejam diminuídas, a história seja
ofuscada, clubes sejam desprestigiados e jovens façam a sua decisão sob as
lentes embaçadas de um óculos colocado a força sobre seus olhos. E é por estas
e outras que a CBF decidiu realizar a polêmica unificação dos títulos
nacionais.
Outro fato também inegável é aquele que trata da dificuldade de se fazer
uma unificação dos títulos nacionais que seja justa, imparcial e realmente
traduza a realidade do futebol brasileiro. Em 2010 a CBF decidiu acatar o pedido
para considerar os títulos da Taça Brasil e da Taça de Prata como equivalentes
ao campeonato Brasileiro. A Taça Brasil iniciou-se em 1959 e foi o primeiro
torneio de âmbito nacional, reunindo clubes campeões em seus estados, e tinha
como objetivo indicar o representante do país para a Libertadores, recentemente
criada. Tinha o formato de Copa, com jogos de mata-mata. Os clubes paulistas e
cariocas já entravam na fase final da competição, precisando apenas de dois
duelos para conquistar o título. A Taça de Prata, popularmente conhecida como
Robertão em virtude de seu nome oficial que era Roberto Gomes Pedrosa, surgiu
em 1967 e diferentemente da Taça Brasil era disputado em turnos e
quadrangulares. Era organizado pelas federações paulista e carioca em conluio
com a CBD e reunia os clubes que demonstravam o melhor futebol do país.
É também importante ressaltar que o futebol mudou. Em 1989, por exemplo,
foi criada a Copa do Brasil que é o segundo maior torneio nacional. Mas uma
peculiaridade de anos anteriores é que a Libertadores, torneio mais desejado
pelos clubes hoje em dia, não tinha tanto valor. Muitos clubes brasileiros
recusaram disputar o torneio pois era deficitário e os adversários violentos.
Era mais interessante realizar excursões rentáveis ou focar nos torneios contra
os rivais locais. Podemos, portanto, dizer que o fato de um torneio garantir a
vaga de um clube para o torneio sul-americano não necessariamente faz dele o
torneio mais importante do país ou o torneio que define o melhor time do país.
Pra ser bem franco, eu não li todas
as razões pelas quais a CBF se respaldou para fazer esta unificação dos títulos
nacionais. Em outro momento irei me aprofundar nisso. Li algumas notícias,
artigos de alguns jornalistas, opiniões de diversas pessoas e uma entrevista do
responsável pelos argumentos pelos quais a CBF se alicerçou: o jornalista
santista Odir Cunha. Me agrada o fato disso ter saído da cachola de um
santista, pois é um dos clubes que mais exemplificam o fato citado no segundo
parágrafo. Porém, se nos atermos ao que é justo e à realidade que esta
unificação deve representar, veremos que o tiro saiu pela culatra. Acredito que
o campeonato Brasileiro, o mais importante campeonato disputado entre clubes do
país, deve ser o responsável por definir a melhor equipe do país em uma disputa
entre as melhores equipes do país. Também acredito que esta opinião não é só
minha. Agora irei discutir sobre o que penso a respeito da Taça Brasil e do
Robertão e de como seria a unificação dos títulos nacionais se eu fosse o
responsável por esta decisão.
A Taça Brasil, conforme citado, reunia os clubes vencedores em seus
campeonatos estaduais. Ora, é evidente que o vice-campeão carioca era um clube
de qualidade superior ao campeão alagoano. As federações carioca e paulistas
eram mais organizadas, os clubes paulistas e cariocas possuíam os melhores
jogadores, enfim. Não quero tirar o mérito de nenhum clube, nem diminuir a
relevância da competição, mas é importante destacar que o vencedor da Taça
Brasil não definia o melhor time do país pois não disputava com os melhores. O
Paulista de Jundiaí foi campeão da Copa do Brasil em 2005 com uma belíssima
campanha, mas não posso afirmar que foi o melhor time daquele ano. Além do que a Taça Brasil possui um formato
que não condiz com o que sempre foi o campeonato Brasileiro. Penso que a Taça
Brasil deveria equiparar-se com a Copa do Brasil.
Eu ainda anexaria outros torneios antigos à lista de edições da Copa do
Brasil. Em 1920 foi realizada a primeira competição a nível nacional do nosso
futebol, chamada Copa dos Campeões Estaduais. Este torneio foi organizado pela
CBD e teve mais uma edição em 1931. A primeira foi vencida pelo Club Athletico
Paulistano e a segunda pelo Botafogo. Nessas duas edições participaram três
clubes - de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul – e todos eram os
atuais campeões estaduais. Em 1937 teve uma outra edição do mesmo torneio
organizada pela Federação Brasileira de Football, que rivalizava com a CBD por
aceitar inscrição de atletas profissionais enquanto a CBD só aceitava amadores,
que foi vencida pelo Atlético Mineiro. Diferente do primeiro Torneio Rio-São
Paulo, de 1933, esta edição da Copa dos Campeões Estaduais teve um certo rigor
para selecionar os participantes. Exceto um clube convidado, da Marinha, todos
os outros haviam sido recém campeões estaduais. Em 1967 uma outra edição foi
realizada, tendo o Bangu como campeão, com critérios bem definidos para a
escolha dos clubes participantes, mas organizada pela federação mineira de
futebol. Como a premissa da unificação, creio eu, seja fazer justiça ao futebol
nacional no que se refere às glórias dos clubes, penso que o que mais interessa
é a magnitude dos times e jogadores, a relevância das suas conquistas, a
importância dos clubes para o esporte em determinados períodos, e não o
passaporte para a libertadores ou o fato de ter organizado por certo órgão.
Sendo assim, consideraria estas 4 edições da Copa dos Campeões Estaduais como
Copa do Brasil. Embora seja anterior ao Rio-São Paulo, Robertão e Taça Brasil,
eu optaria por não considerar como título de campeonato brasileiro pelo fato de
não reunir os melhores clubes do país e ter o formato de copa.
Outros torneios foram criados, antes da Copa do Brasil se estabelecer, na
tentativa de se criar um novo torneio de âmbito nacional. Em 1969 foi realizado
o Torneio dos Campeões da CBD, de cunho oficial, com as participações dos
atuais campeões da Taça Brasil, Roberto Gomes Pedrosa ou Robertão, Torneio
Norte-Nordeste e Torneio Centro-Sul. O objetivo inicial era determinar o
representante nacional na Libertadores, o que acabou não sendo feito. Botafogo
e Santos alegaram desinteresse e decidiram não concluir sua participação no
torneio, fato este que naturalmente nos faz desconfiar da legitimidade do
torneio. Mas embora esse como outros torneios tivessem falhas, sofressem com o
desprezo de clubes de maior expressão, que conseguiam fazer dinheiro em
excursões internacionais, acredito que não podem ser ignorados tendo em vista
serem organizados pela entidade máxima do futebol e possuir um critério bem
definido de participação, ainda que tenha deixado de determinar o clube
brasileiro a jogar a Libertadores da América. Esta edição foi vencida pelo
Grêmio Maringá, que foi considerado campeão após o Santos se recusar a jogar a
partida de desempate. O fator que depõe contra a importância deste torneio,
assim como a Copa dos Campeões Estaduais de 1967 citada acima, é que já haviam
no país dois grandes torneios nacionais, Taça Brasil e Robertão. Em 1978 uma
outra edição deste torneio foi realizada, mas dessa vez com critérios
distintos. Nesse caso, a CBD procurava emplacar mais uma competição nacional e
determinou como participantes os vencedores do Campeonato Brasileiro até então.
Atlético Mineiro foi o campeão, Palmeiras optou por não participar e o
Internacional foi excluído pela própria CBD. Não encontrei os motivos pelos
quais a CBD decidiu excluir o Colorado. É outro torneio com falhas, mas com
critérios bem esclarecidos de participação. A CBD, assim como a CBF, cometeu
inúmeros erros que partem desde o princípio do nosso futebol. O próprio
Campeonato Brasileiro gerou revolta em certos clubes de estados ignorados pela
CBD, que criaram uma competição paralela, Torneio de Integração Nacional. Ainda
assim, acredito ser injusto ignorar títulos oficiais de esquadrões importantes
para o futebol brasileiro. A CBD tentou novamente inserir um novo torneio de
âmbito nacional e em 1982 criou uma edição do Torneio dos Campeões. Dessa vez,
os participantes foram determinados por terem sido campeões ou vice-campeões de
competições nacionais já disputadas no país, como Campeonato Brasileiro, Taça
Brasil, Robertão, e também o Torneio Rio-São Paulo. O Flamengo, com Zico e
companhia, decidiu excursionar e não participou da disputa. O América-RJ foi o
vencedor de forma invicta. Estas duas edições, de 1978 e 1982, além de serem
oficiais eram a segunda competição nacional do país, assim como hoje é a Copa
do Brasil. Em 2000, 2001 e 2002 a CBF organizou a Copa dos Campeões que, assim
como a Taça Brasil, era disputada pelos atuais campeões estaduais. Era uma
competição importante pois dava vaga pra Libertadores em um momento que a
competição continental era cobiçada. O problema é que nessa altura a Copa do
Brasil já estava estabelecida, assim como o Campeonato Brasileiro. Contudo, são
glórias que não podem ser esquecidas por estarem perdidas no passado por
questão de nomenclatura e atualização, assim como as outras citadas. Também
consideraria estes torneios como Copa do Brasil.
O futebol argentino também redescobriu o passado com a unificação dos
títulos nacionais realizada pela AFA. Torneios antigos como a Copa Suecia, Copa
Honor, Copa Ibarguen, muitos com regulamentos distintos, foram unificados. O
Racing, que é talvez o primeiro grande clube do futebol Argentino ainda em
atividade, teve muitas de suas glórias passadas devidamente reconhecidas. Tanto
o Campeonato Argentino como a Copa Argentina foram recheadas com novas edições.
A história agradece.
A Taça de Prata, em contrapartida, reunia as melhores equipes e possuía
um formato mais similar ao atual. Teve apenas 4 edições, entre os anos de 1967
e 1970. Concordo que estes títulos devam ser unificados mas muitos anos
importantes para o futebol brasileiro ainda não seriam contemplados. O embrião
da Taça de Prata ou Robertão foi o Torneio Rio-São Paulo, também denominado de
Roberto Gomes Pedrosa. Na realidade, o Robertão é apenas uma ampliação do
torneio regional. O primeiro Rio-São Paulo ocorreu em 1933 sem o aval da CBD e
sofria com as distâncias além de não reunir todos os grandes clubes. Botafogo,
que dominava de forma soberana o futebol carioca na primeira metade da década
de 30, não participou do torneio e o Flamengo também ficou de fora. Era a
transição do amadorismo para o profissionalismo. Em 1934 e em 1940 foram feitas
outras tentativas para se implantar o torneio, mas as duas fracassaram e não
foram concluídas. Em 1950 finalmente o torneio seria retomado e se
consolidaria.
Rio e São Paulo possuíam
inegavelmente os maiores clubes do país pré-1970. A seleção Brasileira era
representada em larga maioria por jogadores provenientes de clubes destes
estados. Claro que haviam clubes que despontavam em algum momento, como o
Cruzeiro e o Bahia que venceram a Taça Brasil em 1966 e 1959 respectivamente.
Mas não há como discordar que antes da criação do Campeonato Brasileiro os
maiores clubes do país concentravam-se majoritariamente nos estados de São
Paulo e Rio de Janeiro. Não é difícil, portanto, conceber que o Torneio Rio-São
Paulo era o campeonato que reunia os melhores clubes do país. Tanto é que o
quando o cenário começou a mudar a partir do assombro causado pelo Cruzeiro de
Tostão, Dirceu e Piazza em 1966, deu-se início o Robertão com a inclusão de
clubes de outras regiões. Isto posto, entendo que entre os anos de 1950 e 1966
o Rio-São Paulo definia o melhor time do Brasil e penso que unificá-los como
título nacional, apesar da confusão por se tratar de um torneio disputado por
equipes de dois estados, é justo por contemplar a época de ouro do futebol
brasileiro e por destacar a importância de grandes esquadrões que não têm seu
devido valor reconhecido. Já destaquei e reiterei o fato de Rio e São Paulo
concentrarem os melhores clubes do país e se pensarmos que, por este motivo,
ele não poderia ser considerado um título nacional, teríamos que contestar o
Robertão por, em uma edição, englobar clubes de apenas 5 estados.
Em uma entrevista o pesquisador Odir Cunha rechaça a contestação da
Portuguesa em considerar o Rio-São Paulo como campeonato Brasileiro dizendo que
se o torneio pudesse ter esse valor, a Taça Brasil não seria criada. Ora,
concebendo dessa maneira não haveria necessidade de se ampliar o Robertão e a
Taça Brasil prosseguiria como o único torneio de âmbito nacional. Entendo que é
importante para o futebol que seja atribuído valor a quem o merece. E com a
unificação que proponho, os títulos nacionais seriam distribuídos de uma
maneira mais justa.
Na primeira metade da década de 50, quando se inicia o Rio-São Paulo,
três clubes se destacavam enormemente. A Portuguesa de Djalma Santos, Julinho
Botelho e Pinga, o Corinthians de Luisinho, Baltazar e Gylmar, e o Expresso da
Vitória do Vasco da Gama. A Portuguesa foi base da seleção brasileira na copa
de 1954 e o Vasco cedeu a maioria de seu time para a seleção de 1950. O
Corinthians tinha o maior goleiro da história do futebol Brasileiro, bi-campeão
de mundo, que também se destacou pelo Santos, além de Baltazar que representou
o país em 1950 e 1954. A Portuguesa venceu o Rio-São Paulo em 1952 e 1955
conduzida por um dos maiores jogadores da história do futebol brasileiro,
Julinho Botelho. O Corinthians, além de três títulos paulistas conquistados por
aquele esquadrão, também venceu os Rio-São Paulo de 1950, 1953 e 1954. O Vasco
dominava o cenário carioca no final da década de 40, além de vencer os cariocas
de 50 e 52 e, embora não tenha vencido nenhum Rio-São Paulo no início da década
de 50, foi vice-campeão em 1950, 1952, 1953 e 1954. O Vasco só foi vencer o
Rio-São Paulo em 1958 com um grande time liderado pelo bi-campeão do mundo
Vavá, mas o seu grande time foi mesmo aquele Expresso da Vitória. Estes três
esquadrões são exemplos de equipes de enorme importância para o futebol
Brasileiro e que não são reconhecidos como grandes vencedores. E eu ainda
deixei passar batido os títulos internacionais conquistados por eles.
Na segunda metade da década de 50 o Vasco seguia como uma das maiores
equipes brasileiras, reforçado por Bellini e Pinga além da consolidação de
Vavá, e via o surgimento do Santos de Pelé e o Botafogo de Garrincha. Santos
venceu o Rio-São Paulo de 1959. Em 1956 o Rio-São Paulo foi considerado sem
efeito e em 1957 e 1960 o Fluminense foi o campeão. Não era um clube recheado
de craques naquele momento mas tinha Castilho no gol, Waldo e Escurinho no
ataque, dois grandes ídolos da história tricolor. Foi no final da década de 50
que o Brasil conquistava o seu primeiro título mundial e dava início ao período
mais glorioso de seu futebol.
Vem então a década de 60 com sua grande quantidade de jogadores
inesquecíveis. O Botafogo de Garrincha, Didi e Nilton Santos empilhou títulos
internacionais com suas excursões e dominava o Rio de Janeiro com os títulos
estaduais de 1961 e 1962. Foi um dos maiores esquadrões de todos os tempos e
fazia com o Santos o duelo que era conhecido como O Maior Espetáculo do Mundo. Venceu o Rio-São Paulo em 1962, 1964
(dividido com Santos) e 1966 (dividido com Santos, Corinthians e Vasco), além
de ter sido vice-campeão em 1960 e 1961. Teve o melhor retrospecto no torneio
mais disputado do país naquela época. Outro clube que evidentemente dispensa
comentários é o Santos. O esquadrão de Pelé, Zito e Pepe era soberano no seu
estado na década de 60 e venceu o Rio-São Paulo de 1963, 1964 (dividido com
Botafogo) e 1966 (dividido com Botafogo, Corinthians e Vasco). O Torneio
Rio-São Paulo viu em 1961 uma das maiores equipes do Flamengo de todos os
tempos vencer. O time tinha Dida e Joel como destaques e revelou o talento
daquele que viria a ser um dos maiores meio-campistas da história da Seleção
Brasileira e do futebol mundial: Gérson. O Rio-São Paulo também coroou o grande
Palmeiras de 1965, que tinha Servílio, Dudu, Djalma Santos e Ademir da Guia e
que foi campeão com uma campanha praticamente perfeita, aplicando goleadas em
grandes times e colocando o clube alviverde como uma das maiores potências da
década. O Robertão confirmaria a espantosa qualidade daquele elenco
Palmeirense. Corinthians e Vasco ganharam o Rio-São Paulo de 1966 em um final
de campeonato confuso em que os clubes, desfalcados de seus jogadores
convocados para a seleção, optaram por não jogar o quadrangular final fazendo
com que os 4 clubes, que tinham a mesma quantidade de pontos, fossem
considerados campeões. O Corinthians de 1966 tinha Garrincha, Rivelino e Dino
Sani e o Vasco tinha Fontana e Brito. Todos eles campeões do mundo. É claro que
não se pode ignorar o Cruzeiro de Tostão, Dirceu e Piazza que venceu a Taça
Brasil de 1966 esmagando o Santos e foi pentacampeão mineiro consecutivamente.
Foi a partir do massacre cruzeirense em cima do Santos do Pelé que as
federações paulistas e cariocas em parceria com a CBD resolveram, de forma
justa, colocar clubes de outros estados no torneio, gerando assim o Robertão ou
Taça de Prata.
Ainda destaco a infelicidade de não haver, na década de 40, torneios
regulares e bem organizados que pudessem fazer justiça ao futebol daquela
época. Infelizmente o Rolo Compressor do São Paulo e o Expresso da Vitória do
Vasco, que foram a base da seleção de 1950, não podem ser considerados campeões
nacionais em virtude de não haver naquela época um grande torneio, com
regularidade, que reunisse os maiores clubes do país. Embora poucas vezes um
clube tenha sido tão hegemônico em seus estados como esses dois times foram. O
Vasco ganhou 4 cariocas naquela década enquanto o São Paulo venceu 5 vezes o
Paulista. Os dois clubes também tiveram dois dos maiores jogadores do futebol
brasileiro do período anterior aos títulos mundiais conquistados por Pelé,
Garrincha e companhia. Ademir Menezes e Leônidas da Silva.
É claro que os torcedores de Santos e Palmeiras não podem reclamar da
unificação atacada pela CBF pois foram os clubes mais contemplados. Santos foi
pentacampeão da Taça Brasil, além de ter vencido uma Taça de Prata e foi
beneficiado com mais 6 títulos de campeão Brasileiro. Palmeiras foi bi-campeão
da Taça Brasil e bi-campeão da Taça de Prata, ganhando 4 novos títulos.
Torcedores de Bahia e Cruzeiro devem ter ficado em êxtase com a decisão da CBF,
pois foram considerados o melhor time do Brasil por outro ano. Entretanto,
compreendo que a decisão da CBF não traduz a realidade do futebol brasileiro
dos anos contemplados. Não revela a importância dos jogadores e clubes daquela
época de forma justa. Gostaria de ver uma revogação dessa decisão e acredito
que a melhor e mais justa maneira de unificar os títulos de campeão Brasileiro
e honrar o futebol brasileiro evidenciando com justiça a qualidade de
esquadrões inesquecíveis de tempos atrás, é interpretar que o Torneio Rio-São
Paulo ou Roberto Gomes Pedrosa foi o embrião do atual Campeonato Brasileiro
pois o Robertão realizado entre 1967 e 1970 nada mais é que uma ampliação do
Rio-São Paulo e o atual mais importante campeonato nacional é justamente a
consolidação do Robertão e que, isto posto, deve ser apreciado como o primeiro
Campeonato Brasileiro, haja vista que definiam de forma justa o melhor time do
país.
Quanto à Taça Brasil, acredito que deva ser qualificado como Copa do
Brasil pois os dois possuem o mesmo formato e a peculiaridade de permitir que
um clube desconhecido possa conquistar um título nacional. A Taça Brasil não
define a melhor equipe pois seu formato de mata-mata restringe os duelos
fazendo com que um clube possa vencer o torneio disputando apenas contra clubes
de qualidade extremamente inferior. Outra observação a respeito da Taça Brasil
é o dela colocar os clubes paulistas e cariocas diretamente na fase final
enquanto clubes de outros estados tinham que realizar mais partidas. É curioso
que muitos que criticam a hipótese de se considerar o Rio-São Paulo como
Brasileiro dizem que um torneio entre equipes de apenas dois estados não pode
ser considerado de âmbito nacional. Mas veja bem, a Taça Brasil também
privilegiava enormemente os clubes paulistas e cariocas, colocando-os a dois
duelos do título. Podemos usar novamente como exemplo o Campeonato Argentino.
Em um determinado período do futebol argentino, haviam torneios disputados
apenas por clubes de Buenos Aires. Estes torneios eram de grande importância
justamente pelo fato de Buenos Aires concentrar os melhores clubes da
Argentina. Pouco depois a AFA resolveu incluir clubes do interior do país de
modo a federalizar a competição dando origem ao Campeonato Argentino como
conhecemos hoje. Contudo, estes torneios
metropolitanos foram unificados pela AFA e são considerados como Campeonato
Argentino.
Acredito que o combustível para que a CBF fizesse esta unificação é o
desejo de atribuir uma importância maior ao futebol de clubes realizado durante
o período mais importante do futebol Brasileiro e penso que, se for fazer isso,
que faça da forma mais justa. O futebol brasileiro está tão maculado de desonestidade
que uma decisão dessas não pode ser feita sem uma análise profunda que procure
uma resolução digna.
A lista de campeões Brasileiros e da Copa do Brasil segundo a minha
sugestão de unificação, ordenada pela quantidade de títulos por clube, seria da
seguinte forma:
Campeonato Brasileiro
Corinthians – 10 títulos – 1950, 1953, 1954, 1966, 1990, 1998, 1999,
2005, 2011, 2015
Palmeiras – 9 títulos – 1951, 1965, 1967, 1969, 1972, 1973, 1993, 1994,
2016
Santos – 7 títulos – 1959, 1963, 1964, 1966, 1968, 2002, 2004
Flamengo – 6 títulos – 1961, 1980, 1982, 1983, 1992, 2009
Fluminense – 6 títulos – 1957, 1960, 1970, 1984, 2010, 2012
São Paulo – 6 títulos – 1977, 1986, 1991, 2006, 2007, 2008
Vasco da Gama – 6 títulos – 1958, 1966, 1974, 1989, 1997, 2000
Botafogo – 4 títulos – 1962, 1964, 1966, 1995
Cruzeiro – 3 títulos – 2003, 2013, 2014
Internacional – 3 títulos – 1975, 1976, 1979
Grêmio – 2 títulos – 1981, 1996
Portuguesa – 2 títulos – 1952, 1955
Atletico Mineiro – 1 título – 1971
Atletico Paranaense – 1 título – 2001
Bahia – 1 título - 1988
Coritiba – 1 título – 1985
Sport – 1 título – 1987
Copa do Brasil
Palmeiras – 6 títulos – 1960, 1967, 1998, 2000, 2012, 2015
Santos – 6 títulos – 1961, 1962, 1963, 1964, 1965, 2010
Cruzeiro – 5 títulos – 1966, 1993, 1996, 2000, 2003
Grêmio – 5 títulos – 1989, 1994, 1997, 2001, 2016
Flamengo – 4 títulos – 1990, 2001, 2006, 2013
Atlético Mineiro – 3 títulos – 1937, 1978, 2014
Corinthians – 3 títulos – 1995, 2002, 2009
Botafogo – 2 títulos – 1931, 1968
América-RJ – 1 título - 1982
Bahia – 1 título – 1959
Bangu – 1 título - 1967
Criciúma – 1 título – 1991
Fluminense – 1 título – 2007
Internacional – 1 título – 1992
Juventude – 1 título – 1999
Paulista – 1 título – 2005
Paulistano – 1 título - 1920
Paysandú – 1 título - 2002
Santo André – 1 título – 2004
Sport – 1 título – 2008
Vasco da Gama – 1 título – 2011
Por Luiz Gustavo Medeiros.
Por Luiz Gustavo Medeiros.
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